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Não Me Façam Perguntas Difíceis a Esta Hora

Blog sobre Livros, Cinema e Séries, mas principalmente sobre livros. Sem esquecer, as peripécias com a filha ou mesmo sem ela...

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14.02.21

Sobre o Livro #46 Os Cães de Salazar de Francisco Moita Flores


Tânia Oliveira

Olá :)

Hoje trago-vos a penúltima review de um dos livros que li em 2020: o policial de Francisco Moita Flores - sobre a tentativa de assassinato de Salazar. 

Para quem desconhece, Francisco Moita Flores foi um antigo inspecto da Polícia Judiciária que já escreveu imensos livros e guiões para a televisão portuguesa que se transformaram em sucessos de audiência, por exemplo Alves dos ReisO Processo dos TávorasA FerreirinhaJoão Semana. Adaptados de obras já criadas por outros autores portugueses ou criados, originalmente, por ele. De obras conhecidas, temos alguns títulos, como por exemplo Ballet Rose (Uma História Amoral), Segredos de Amor e Sangue,  O Mistério do Caso de Campolide

Este livro conta a história da tentativa de assassinato a Salazar, em 1937 e de como a investigação foi realizada pelas autoridades competentes. Objectivo: descobrir o culpado... segundo a versão oficial!

Para escrever este livro, Francisco Moita Flores (FMF) baseou-se no processo de investigação escrito pelo Director da PIC (Polícia de Investigação Criminal), o juiz Alvez Monteiro. Este processo de investigação surgiu devido à necessidade de se investigar o processo criminal conduzido pela PVDE, na altura, quando acusou falsos inocentes do atentado. Porquê? Devido à obsessão da PVDE em aproveitar um ato criminal para incriminar os comunistas da altura e perpetuar a legitimidade de Salazar no poder e as suas políticas repressivas. Apesar de este atentado ter acontecido, FMF alerta, na sua nota prévia, para dois factos: 1º as personagens são, na sua maioria, fictícias (sem contar com as personagens históricas); 2º como consequência, os diálogos são fruto da imaginação do autor. Podem encontrar todos estes dados na nota prévia do livro. 

Posto isto, vamos à opinião dita do livro...

Devido ao inúmero de personagens que o livro contém, por vezes foi complicado lembrar-me de todas, enquanto lia. Contudo, foi só no início já que quando o leitor embrenha na narrativa, acaba por se lembrar da acção secundária em que está inserida. Apesar da narrativa principal ser a conclusão "correta" da investigação criminal da PVDE e a subsequente investigação levada a cabo pelo Director da PIC, existem algumas narrativas secundárias que ajudam o leitor a familiarizar-se com o ambiente social e político da época. Por outras palavras: a pobreza que muitas famílias passavam, a falta de liberdade de expressão, os variados espiões espalhados pelas cidades, vilas, aldeias que acusavam falsamente já que o verdadeiro motivo não poderia ser revelado (refiro-me a inveja de estatuto social ou mesmo por pura mesquinhez) ou então por simplesmente quererem uma vida diferente. Todos estes pontos foram extremamente bem retratados por FMF. O desafio é conseguir continuar a ler, quando sentes a revolta a surgir-te nas veias e a pensar, como era possível estarem tão cegos ou tão dedicados àquele sistema político? As respostas poderiam ser várias: muitos nasceram já dentro daquele sistema político, não conheciam outro. Muitos aproveitaram-se, ainda antes da ditadura ser implementada, para subirem nas carreiras. Outros não concordando com a ditadura, lutaram e resistiram como puderam. Mais uma vez, todas estas nuances estão muito bem retratadas, especialmente nos diálogos entre as personagens. 

Contudo, este livro tem uma narrativa principal e as intrigas, os erros que surgiram dessa narrativa não são fáceis de digerir. Falo, em particular, dos métodos usados para "questionar" suspeitos. Senti o coração apertado inúmeras vezes e por diversas ocasiões, tive de me lembrar que esta narrativa se passou durante uma ditadura, quando os direitos básicos eram privilégios de ricos, a favor de Salazar. Mesmo os poderosos que detinham o poder e não concordavam com as mais variadas formas de interrogatório, tinham de ter cuidado extremo cuidado, em como expunham as suas observações.

A meu ver, o ponto positivo desta obra, foi o cuidado com que o autor teve em retratar a sociedade da época, o bom e o mau, desde as classes mais baixas às mais ricas. Mas não foi o único, apesar de todo o mal que existiu naquela época, FMF conseguiu vingar algumas personagens. Quais? Terão de ler. 

O ponto negativo foi a inexistência de capítulos. O autor não dividiu a obra em capítulos, a história é contínua. No entanto, é separada por asteriscos quando existe uma mudança de cenário. Apesar de existir esta separação, no início pelo menos, senti que era confuso. Mas admito que essa confusão pudesse estar relacionada com o facto ainda não estar completamente familiarizada com os nomes das personagens. 

Deixo somente um último alerta: este livro contém imensas cenas de violência extrema, pequenas referências a pedofilia que poderão ferir a susceptibilidade de leitores menos prevenidos. Contudo, tenho de recomendar esta obra! Porquê? Sempre achei importante conhecer a história do nosso país. Ela não é perfeita e sabemos, agora, que foi muito embelezada e a não ser que uma pessoa leia não terá acesso ou curiosidade em conhecer, com mais profundidade, certos tempos históricos do nosso país. Por isso, caso tenham curiosidade ou desejo de conhecer uma parte, mínima, da história do nosso país, leiam este livro e deixem que a revolta insurja nas vossas veias, tal como se insurgiu nas minhas. 

Existe uma série que passou na RTP1 e que está disponível na RTPPLay baseada neste livro e que foi escrita também por Francisco Moita Flores. Chama-se O Atentado. Irei ver e depois darei a minha opinião. Deixo aqui o link para quem esteja interessad@ em ver: 

O Atentado

Espero que tenham gostado desta review.

Se quiserem conhecer mais reviews, visitem a página do insta @BLOG_BNMFP ou

visitem a minha página do GoodReads https://www.goodreads.com/user/show/16885685-blog

Kisses,

Tânia Oliveira